sábado, 26 de fevereiro de 2011

Carta de Amor no. 3

Cartas de Amor pra você n. 3



E os mesmos ventos que o arrastaram pelos caminhos os quais não eram os meus, em busca de um mundo que você acreditava ser a sua realidade, o trouxeram de volta no início de um outro inverno, 3 anos depois.

E assim, quando meu coração já se aquietava, não no esquecimento, mas sim, na resignação, você se achegou de novo, acenando-me com a possibilidade de retornar ao círculo de luz do passado, o qual havia me revitalizado.

Meu coração encheu-se, então, de grande alegria, e minha alma entoou hinos ao amor. Banhei-me em bálsamos de sonhos e vesti as minhas vestes de gala; no coração preparei um banquete, sentando-me à porta da ilusão, tendo amarradas, na barra de meu vestido, pétalas de rosas perfumadas para lhe oferecer; estando assim preparada, estendi as mãos para o receber.

Em meu recanto, tudo se preparou para a festa. A Poetisa, eterna menina, minha amiga, companheira, serva e camareira, vestiu sua melhor roupa de domingo e foi a primeira a sentar-se a um canto junto à mesa e começar a rabiscar suas rimas e frases, agora em ritmo alegre, deixando pra trás o choro e o lamento dos poetas.

Quatro Anjos desceram dos céus, formando 2 pares, colocando-se cada qual em um canto da sala, e dedilharam suas harpas, elevando aos céus canções que convidavam a todos para comungar naquele momento de gala.

Abri as portas da gaiola, onde trazia preso, há tempos, um pássaro cantante, o qual eu batizara de "Carente", para que voasse em busca de seu par e também pudesse ser feliz. Mas o pássaro, amigo companheiro, sobrevoou o jardim por algum tempo, retornando à janela, onde se pôs a entoar as mais belas trinas que aprendera, somente para comunicar "eu também quero fazer parte da festa."

As flores no jardim, até então recolhidas no inverno, se ergueram em seus caules, abrindo-se sem medo; coloriram com matizes diversos todos os canteiros, e pareciam vestidas de pérolas reluzentes banhadas pela luz do sol.

Sentamo-nos, todos à mesa, reservando a cadeira principal pra você. E quem era 'todos nós'? Eu, Clarissa, a amante; acompanhada da Eterna amiga Poetisa; meu amigo mais antigo, o Sonho; a companheira inseparável da Poetisa chamada Fantasia; o pássaro cantante, "Carente", que veio da janela pousar na quina da mesa; e, os quatro anjos mensageiros denominados Amor, Esperança, Prazer e Vida; e assim, postados, ficamos à espera que você se sentasse para juntos darmos início ao banquete.

Mas você permaneceu de pé, olhando tudo, quase sem surpresa, como se tudo aquilo fosse esperado, ou, nada mais fosse que um direito seu.

Continuamos todos sentados, aguardando suas palavras, suas decisões, para tão solene momento.

Por fim, você se pronunciou, falou de projetos, planos implantados em outros pólos, como se nós, ali não existíssemos, e só existisse aquilo que era importante pra você e as pessoas às quais considerava ser a sua realidade; o seu motivo de viver.

Mas, eu, Clarissa, ouvia sua voz como se fosse música me arrastando, ora para um mundo de ilusão, ora para uma realidade. Negando-me, assim, a ouvir verdades, ou dando outros significados às palavras de forma a alimentar os meus sentimentos de amor.

Entretanto, pouco importava o que era dito, o importante era o êxtase a que me conduzia, o simplesmente, ouvir sua voz.

E horas, dias se passaram, e todos que vivem em meu recanto, os quatro anjos (Amor, Esperança, Prazer e Vida), a Fantasia (da Poetisa), o pássaro cantante, e o meu Sonho permaneceram sentados, pacientemente, esperando o momento certo de agir e colocar a sua própria voz.

Dias passaram, e você, meu querido, fazia de conta que não percebia que todos estes amigos inseparáveis do Amor, estavam à espera de uma palavra sua, de ordem, para descobrirem os pratos, tão cuidadosamente preparados, para lhe oferecer. Todos continuaram esperando, e a cada gesto seu, todos se colocavam em estado de atenção, para não perder o momento exato em que deveriam começar a agir.

Dias passaram... e tudo continuava no mesmo lugar e da mesma forma... você, desconhecendo nossos objetivos e vivendo em seu próprio mundo e seus próprios motivos; então, o Anjo Prazer sentiu-se com grande apatia, deu boa noite e partiu. Logo após, o Anjo Esperança, também, cansado de tanta espera inútil, se despediu e se recolheu; sobraram apenas o Amor e a Vida que, assistidos pelo Sonho, continuaram aguardando; e finalmente, começaram a discutir entre si, se valia ou não a pena continuar... já que a Esperança tinha se recolhido e o Prazer tinha ido embora.

O pássaro cantante "Carente", vendo tanta discórdia, entre Amor e desejos de Vida, recolheu-se à sua gaiola e parou simplesmente de cantar. Nem tentou fugir... percebeu em sua sabedoria, que não adianta correr atrás do Amor... quando o Amor não quer receber.

A Fantasia, amiga da Poetisa, tomada de grande ansiedade, desequilibrou-se emocionalmente e afogou-se no pequeno lago da fonte, que eu, Clarissa, mandei há tempos construir no centro do jardim. A Poetisa chorou muito a perda da amiga e portanto, sem Fantasia, não conseguiu mais rimar. Não conseguindo mais rimar, a Poetisa passou a escrever em prosa, onde se torna mais fácil descrever sentimentos tão contraditórios, quanto os de Esperança & Desesperança, Amor & Revolta, Amor & Ciúme, Crença & Desengano, Alegria & Tristeza.

Finalmente, todos partiram, sem desejar mais luta, mas eu, Clarissa, continuarei aqui, esperando por você... pois, se todos se foram... o Amor permaneceu a postos, teimoso e irreverente, acreditando que um dia conseguirá acordar a Fantasia de sua pseudo-morte, e que poderá transformar o Sonho que não se foi por ser fiel companheiro, numa realidade tão verdadeira que ultrapassará os limites da vida.

Amo você.

Meu recanto, numa terceira noite de primavera do ano de 2003.

FIM DA CARTA N. 3


Autora: ReginaCelia (direitos autorais reservados)

vistem meus sites
telemensagemfonada
telemensagem.online
baixatelemensagem

Nenhum comentário:

Postar um comentário