sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A Velhinha


A velhinha no restaurante


Ontem, por estar assoberbada de trabalhos, pois véspera de datas especiais é sempre assim, resolvi não preparar o meu próprio almoço e ir a um restaurante perto de casa, onde é servida uma refeição meio sem graça, mas que quebra o galho nas horas de aperto. Eles não capricham, é sempre o mesmo prato feito, o mesmo bife ou o mesmo peito de frango,  e deixam de cativar uma clientela que poderia ir ao estabelecimento todos os dias fazer as refeições, já que muitas vezes tendo compromissos, o tempo perdido na cozinha pode fazer a diferença.

Mas não existe o interesse da parte dos proprietários do restaurante em oferecer o melhor e nem tão pouco dar um atendimento diferenciado e agradável de forma a despertar no cliente o desejo de voltar amanhã ou outro dia.

Na hora do aperto e da fome me socorro ali mesmo, é perto e não tão caro.

Estou dando voltas, o que pode tornar longo este relato e talvez enfadonho, já que as pessoas hoje querem ler textos curtos, diretos e objetivos, por esta razão a piada, a charge fazem sucesso na Internet.

Então cheguei para almoçar, e logo vi uma velhinha, bem velhinha, e como os pares e os iguais sempre se encontram, como boa velhinha logo botei os olhos nela com interesse. Enquanto eu pedia meu PRATO FEITO, ela escolhia um pãozinho doce e uma coca-cola. Tendo finalizado a compra se dirigiu a uma mesa e tentava abrir a garrafa de coca e não conseguia (problemas da velhice, perde-se a força muscular e também a habilidade de movimentos finos). Pediu que eu abrisse a garrafa, infelizmente tentei e também não consegui e então ela chamou o balconista para ajudá-la.

Sentei-me na outra mesa e fiquei esperando o meu farto almoço e não conseguia deixar de olhar para aquela velhinha de cabelos brancos, brancos por igual, arrepiados, encrespados e despenteados, e ela frágil, raquítica, toda desdentada com uma sacola de pano ao lado, comendo uma pão doce e bebendo uma coca-cola. Pensei comigo, “seria a refeição, o almoço daquela velhinha, um  pão doce com coca-cola? Que triste meu Deus! Onde será que mora? Tão mal vestida, parecendo estar muito fraca! E por acaso aquilo é refeição que uma pessoa de idade deva fazer para manter-se hígida? E assim muitos pensamentos sombrios passaram pela minha cabeça de também já com certa idade, mas não tanto quanto aquela, nem tão desamparada quanto ela parecia ser”.

Trouxeram o meu PRATO FEITO (peito de frango, um super peito por sinal, arroz, feijão e uma salada de alface com tomate). Iniciei minha refeição e logo me veio à cabeça: por que eu não oferecia àquela senhora um prato feito? Mas, enquanto eu ficava tecendo pensamentos mirabolantes, ela terminou seu pãozinho com coca, colocou sua sacola do lado e saiu caminhando para algum canto que não tenho idéia de qual seja.

Desde ontem, o vulto dela, com seu pãozinho doce e coca com ar de tristeza, de desleixo e abandono, não me sai da cabeça.

Meus pensamentos voam, voltam no passado revêem meus velhos pais e amigos, vão para frente e imagino quanta gente velha e doente se espalha pelas ruas das cidades grandes, das cidades pequenas, no Brasil, no mundo, abandonadas pelas famílias, sem apoio e proteção de uma aposentadoria decente (mesmo que tenha uma aposentadoria é tão pouco que não dá para manter moradia e alimentação, mesmo quando se tem a moradia).

Fico pensando que o serviço público se vangloria da proteção ao velho e às crianças, mas de fato é um engodo, porque o que eles fazem é arrastar as pessoas numa vida medíocre. Crianças sem proteção alguma, seja da família, do poder público e da sociedade se espalham pelas ruas drogando-se nos primeiros anos da puberdade, matando e roubando antes de aprenderem a ler e escrever – porque a fome e as necessidades básicas de sobrevivência são fortes tanto no ser humano quanto no animal.

Velhos superlotam asilos onde são maltratados. Velhos andam pelas ruas sem rumo e sem apoio. Velhos ricos se amontoam em asilos de luxo custam à família fortunas mensais para serem no mínimo dopados para dormirem muitos e ficarem cada dia mais senis e darem menos trabalho.

E ai volta a imagem pra mim de ENVELHECER SEM QUALIDADE DE VIDA melhor não ENVELHER, estender a vida além dos limites da nossa capacidade de nos auto-sustentar não vale a pena.

A velhinha apesar da má aparência, do desgaste físico, me pareceu LÚCIDA. Quando se consegue manter a lucidez não sei se é melhor ou pior, porque na senilidade total a pessoa nem sofre (pelo menos dizem – será?).

E está crônica está sendo escrita com a finalidade de questionar – SE ESTAMOS VIVENDO MAIS – IMPORTANTE SE FAZ MUDAR OS SISTEMAS DE PROTEÇÃO AO VELHO – ou se dá uma aposentadoria decente, ou o governo pára de enganar as pessoas com o SONHO DA APOSENTADORIA.

E a proteção à criança tem que deixar de ser PRISÕES para ser ESCOLAS – onde se ensina a vida, se dá treinamento profissional e não COERÇÃO – REPRESÁLIAS E AGRESSÕES.

O que você acha de tudo isto que escrevi?

Fale sobre isto nos nossos comentários, gostarei de saber se sou uma iludida de que o mundo tem como melhorar, ou se sou uma pessoa que critica o que está certo e que não precisa mudar.



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Primeira Crônica da Vida, seu nome é M

Faz já algum tempo que deixei de escrever, não foi por falta de vontade e sim por falta de inspiração. Sem aquele impulso ou objetivo, escrever é um fiasco.

Depois eu não tenho escrito, porque se no passado eu me acreditei escritora, poeta etc, depois resolvi que eu era apenas uma ESCRIVINHADORA, palavra que é um adjetivo pejorativo, indicando que alguém rabisca, conta estórias, mas não é um literata, não é um escritor.
Então eu resolvi que deixaria de escrever, porque todas as tolices e rimas escritas não interessavam a ninguém a não ser a mim mesma, ao meu ego e aos desabafos e confissões do meu superego.

Entretanto, de uns tempos para cá, tem aparecido sentada a minha porta uma figura estranha, que olha pra mim com olhos de pedinte, e pede: escreva.

Hoje, resolvi conversar com esta figura e saber o que ela queria. Para começar perguntei-lhe logo, seu nome e origens, pois como posso escrever sobre alguém que nem conheço, que nunca vi, não sei o nome e nem trajetos de vida. Então ela me disse:

"É importante saber quem sou? Meu nome, minhas origens?"]
"Se é assim tão importante, eu lhe digo que meu nome é M, simplesmente M e vim caminhando, navegando, voando sobre montanhas, rios, lagos, lagos, cidades, campos para chegar aqui à sua porta e lhe falar dos meus sonhos perdidos, de minhas horas vazias, dos meus dias fitando um horizonte onde eu acreditava ver a luz."

Perguntei-lhe então: - M não é nome, M é apenas uma consoante do alfabeto, no máximo pode ser a inicial de um nome, mas muitos nomes se iniciam com M - qual é seu nome?

"Meu nome é M de Mundo, M de Música, M de Mulher, M de maldade, M de Mar, M de Maria. Porque como M de Mulher eu trago para a Luz do Mundo os seres que o constrói, o edifica, o torna melhor e também o destrói, como M de Música eu canto nas florestas, nas ondas do mar, na arpa dos anjos, no choro das crianças, na alegria dos vitoriosos, na dor dos vencidos, na esperança da juventude, no lamento dos velhos. Como M de mundo eu sou uma parte do todo, a metade de quase nada,  a escória, o fundo, a lama, o lixo e também sou o todo que ninguém consegue ver. Como M de mar eu estendo minhas ondas de amor sobre a areia das praias tentando alcançar aqueles que dormem no egoismo, para que saibam que viver é amar, viver é ser, viver é querer, viver é se doar, dividir, compartilhar. Como M de Maria, eu sou a fantasia do homem que busca a Mulher pura e  perfeita  para mãe de seus filhos, para dormir em seu colo e o amparar nas lutas para se realizar no Mundo. No M de maldade reside o lado cruel da mulher que se vinga da vida quando o amor se vai, a beleza acaba, a esperança se auto destrói, e de tudo que construiu e por tudo que lutou somente lhe resta solidão e saudades dos dias de festas, da horas de alegria, dos anos de sonhos em futuros que não se realizaram."

Penso comigo: - Ah! quanta bobagem esta mulher quer falar. Filosofias vazias, sonhos sem objetivos, preciso me decidir se quero escrever tudo que ela quer me contar.

O que você faria? escreveria sobre alguém assim criada na sombra?